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O SAN PEDRO DE ALCÂNTARA

29/07/2024 | Clic, Piratas dos Sete Mares

Faltando pouco mais de uma década para acabar o século XVIII, ocorreu um dos mais espetaculares naufrágios da história, envolvendo um acontecimento curioso e alterando, de modo significativo, a busca por tesouros submersos nas décadas que se seguirão. O San Pedro de Alcântara – um navio de guerra espanhol de 64 canhões – parecia fadado ao desastre em sua viagem de retorno das Américas com destino a Cádiz, Espanha. Construído em Cuba nos anos de 1770-1771, era um imponente navio estruturado em madeira de caoba (mogno) e com um excelente desempenho de navegação. 

O San Pedro tinha uma missão de extrema importância a ser cumprida no ano de 1784. No porto de Callao (Peru), levava cerca de 400 almas de retorno à Europa, além de 17 prisioneiros Incas pertencentes ao movimento revolucionário Tupac Amaru, que seriam julgados em Espanha. Além disso, uma enorme carga em metais encontrava-se em seus porões, composta por 4 toneladas de ouro, 153 toneladas em moedas de prata e 600 toneladas de cobre. Todo esse metal era proveniente das minas peruanas. Como se não bastasse, uma fantástica coleção de artefatos arqueológicos e botânicos recolhidos desde 1778 e pertencentes a Ruiz e Pavon, cientistas em missão no Peru e Chile, também estavam a bordo. A coleção incluía, entre outras coisas, cerâmicas da civilização Chimu. Toda essa carga atingia a pesagem de quase 1000 toneladas, excedendo em quase o dobro, o peso recomendável de transporte do San Pedro de Alcantara.

O navio zarpou do Peru em 1784, e desde o início de sua viagem, fazia água em seus porões. O peso da carga e as condições do barco tornava qualquer manobra em alto mar, um risco em potencial. Ao atravessar o Cabo Horn – o ponto mais meridional das Américas – rumou com destino ao Rio de Janeiro, para reparos imediatos, permanecendo ancorado na cidade brasileira até janeiro de 1786. 

Após os devidos reparos, a travessia do Atlântico ocorreu de forma lenta, mas sem problemas. Contudo, às 22h30 de 2 de fevereiro de 1786, a tripulação escutou um forte baque no fundo do navio, para então perceber – tarde demais – que se encontravam em maré extremamente baixa. Com o peso da carga, o porão do navio afundou de imediato, submergindo no mar todo o tesouro em metais, a coleção arqueológica dos cientistas espanhóis e os prisioneiros do Tupac Amaru, que se encontravam acorrentados no porão. Além deles, outras 128 pessoas perderam a vida no acidente. O convés, contudo, descolado do casco, flutuou mais alguns minutos em direção ao rochedo de Papoa, afundando também em seguida para desespero que quem havia ficado agarrado a ele.

Os 270 sobreviventes relataram posteriormente que o tempo estava limpo e a noite calma. Além da maré baixa, estudos recentes apontam para uma terrível falha humana de navegação. O San Pedro de Alcantara, cujo destino era Cádiz (Espanha), naufragara no litoral de Peniche (Portugal), distante 300 milhas náuticas. Mais de 500 km de onde deveria estar pelo período e direção navegado! 

No dia seguinte ao desastre, as autoridades espanholas se mobilizaram convocando 40 mergulhadores para o resgate do tesouro; profissionais estes vindos de várias partes da Europa. Até o momento da história dos naufrágios, nunca se havia presenciado tamanha mobilização! Embora se tenha utilizado sinos de mergulho, a baixa profundidade do naufrágio permitiu o uso do mergulho livre. Durante três anos (1786-1788) processou-se o resgate de praticamente todos os canhões, armas de guerra e a quase totalidade do tesouro perdido, que foi levado a terra. Até hoje, a empreitada de resgate do San Pedro de Alcantara é considerado um dos marcos técnico de maior sucesso na história do resgate de tesouros submersos. 

Contudo, a vida às vezes prega peças tragicômicas nos seres humanos; e a exemplo de uma maldição, o tesouro resgatado com tanto custo foi embarcado no navio El Vencejo, apenas para naufragar novamente na Baia Consolação, mais ao sul, levando outras 92 vidas. Não se dando por vencida, as autoridades espanholas mais uma vez efetuaram o resgate do tesouro. Curioso notar que os mergulhadores não encontraram apenas o tesouro “oficial” espanhol, mas também metais pertencentes a uma carga de contrabando que certamente contribuíu para o excesso de peso registrado. 

Em sua época, este naufrágio causou tanto furor na Europa, que em 1787, o pintor Jean-Baptiste Pillement (1728-1808) imortalizou o dramático naufrágio na impressionante série “Naufrágio do San Pedro de Alcantara”. Entre 1985 e 1999, os arqueólogos Jean-Yves e Maria Luísa Blot realizaram um brilhante trabalho de resgate arqueológico, não apenas no sítio do naufrágio, mas no terreno próximo que serviu de cemitério para os desafortunados que pereceram na tragédia. A pesquisa sobre esse desastre náutico,  que resultou na importante exposição “O Tempo Resgatado ao Mar”, em Peniche (Portugal), foi amplamente comentada e comemorada nos jornais da época. 

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor

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