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ONDE VOCÊ ESTAVA?

13/11/2024 | Clic, Marisa Fernandes

Acordo sempre um pouco desconfiada com o tempo. Deparo, com frequência, com a presença de sentimento da infância: a minha relação com o tempo. Como está o tempo hoje? Terá sol? Está nublado ou chovendo? Frio ou calor? Antes de abrir bem os olhos e levantar da cama esses pensamentos não só invadem minha mente como querem definir minha disposição e a própria ação de sair do aconchego egocêntrico da minha cama.

– Vamos lá, levante-se! Chuva ou sol, o que importa? Isso você não controla, Marisa.

Preciso, então, de movimento pessoal logo cedo (além dos que tive que travar nos sonhos). Travar uma luta já de cara com as condições do tempo e seus efeitos em mim.

É comum para você também achar que um dia de sol é melhor do que um dia de chuva? Quais impactos que o clima te causa?

Chovendo, ouço: – Ah, que dia para ficar em casa? Se estamos em casa: – Ah, que pena! Se não fosse a chuva, poderíamos sair, correr, caminhar…

Bem, sei que esses sentimentos, em mim, são meramente passageiros. Eles não têm força suficiente para durar mais de alguns minutos. Definitivamente se dissipam como nuvens carregadas pelo vento ou como chuva de verão.

Mas, e você, onde estava? Impactado pelo tempo? Pela falta de tempo? Absorto nos seus pensamentos? Na proteção da sua cama?

Eu saí, caminhei, ouvi e falei. Perguntei e respondi. Anunciei e renunciei. Fui e voltei até onde eu pude. Chorei e também sorri. Minha voz, minhas forças, inúmeras vezes, como em uma tempestade, foram arrancadas, silenciadas. Olhei para todos os lados, vi muita gente vociferando, senti medo.  procurei por ti na multidão, na linha de frente, olhei para todos os lados e não te encontrei. Onde você estava?

Talvez, estavas como tantos: inertes, paralisados. Indiferentes. Apavorados com o mundo, com os homens, com a loucura que paira no ar. Loucura muitas vezes disfarçada de liberdade, de prosperidade. Talvez você estava como o tempo – incerto. Deserto. Talvez estivesse tombado, arrancado do chão. Cortado como árvores que desaparecem no fio estridente do desenvolvimento. Talvez estivesse embrutecido. Concretado. 

Onde você estava? Eu precisava de ti, da tua voz, da tua força. Do teu colo, da tua palavra, do teu abraço. Do teu caminhar. Do teu corpo. Da tua presença. Da tua presença. Da tua presença. Da tua presença.

– Vamos lá, levante-se! Chuva ou sol, o que importa? Isso você não controla. Isso você não controla…

O que você pode controlar? Talvez, apenas o seu levantar. O seu caminhar. Talvez, se importar olhar o outro e o entorno. Escolher o caminho. Se encontrar o caminho. Dar a mão, talvez, se sentir que não está sozinho.

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