Foi com esse nome que ficou conhecido o sótão onde Anne Frank, os pais, a irmã e mais quatro pessoas permaneceram escondidos por mais de dois anos para escapar à perseguição nazista aos judeus. Ao lado do escritório de Otto Frank, à rua Prinsengracht, 263, em Amsterdã, na Holanda, havia um anexo composto de várias peças pouco conhecido pelos frequentadores do local. Depois de fugirem da Alemanha para escapar à sanha nazista aos judeus, os Frank se fixaram na Holanda. Anne tinha 4 anos de idade. Lá tiveram vida tranquila por alguns anos até que as tropas nazistas ocuparam o país e a perseguição aos judeus aumentou em intensidade e brutalidade, contando inclusive com o apoio de holandeses partidários de Hitler. Sem alternativa, os Frank e os demais se recolheram ao anexo secreto na vã esperança de escaparem dos campos de concentração e extermínio.
Em 12 de junho de 1942, então com 14 anos, Anne dá início a um diário a que chamava de Kitty e ao qual se dirigia em forma de cartas. O diário iria perdurar até 1º. de agosto de 1944, portanto pouco mais de 26 meses. A constância da menina e seu amadurecimento precoce são impressionantes. Ali, no dia a dia, ela vai registrando os acontecimentos de uma vida reclusa na qual todos os cuidados eram poucos para evitarem ser descobertos. Tudo é regrado de maneira rígida, como o consumo dos alimentos, as horas das refeições, o uso do banheiro e do sanitário, a ocupação dos lugares. Era imperioso evitar barulhos, abrir janelas, falar em voz alta e tudo aquilo que pudesse chamar a atenção da vizinhança. Mesmo naquele ambiente sufocante surgiam desentendimentos, ciúmes, inveja e incompreensão, mas os dias passavam e ela confiava no futuro. “Depois que a guerra acabar…” – sonhava ela com saudade da escola, dos amigos e de uma vida normal. Em certa fase parece se apaixonar por Peter, garoto da outra família, muito tímido e reservado, mas no correr do diário ele vai ficando em segundo plano. Pessoas de fora e de confiança ajudam no que podem adquirindo alimentos, remédios e objetos necessários. Através de um rádio, sintonizado com muito cuidado, ficam a par do que acontece na guerra ouvindo o noticiário emitido da Inglaterra. E nessa situação absurda os dias e os meses vão se sucedendo enquanto os Aliados tomam conta da situação. Bombardeios sobre a Holanda e notícias alarmantes deixam a todos apavorados e temerosos. A tentativa de invasão do prédio pelos ladrões provoca verdadeiro pavor e as medidas de cautela são redobradas.
A guerra caminha para o fim com a vitória inconteste dos Aliados. Autoridades holandesas no exílio e o primeiro-ministro Winston Churchill fazem pronunciamentos positivos que enchem de esperança os corações. O Dia D e a Invasão são coroados de sucesso e os reclusos vibram ante a possibilidade de recuperarem a liberdade. Mas o imprevisto acontece. Na manhã de 4 de agosto de 1944, entre dez e dez e meia, um carro parou diante do prédio. Dele saiu um sargento, uniformizado e armado, Karl Josef Silberbauer, e no mínimo três membros da Polícia de Segurança holandesa em trajes civis, mas também armados até os dentes. Prenderam as oito pessoas que se encontravam no Anexo Secreto e aquelas que os ajudavam do lado de fora. Não esqueceram de apanhar o dinheiro e outros objetos de valor. Enviados às prisões, todos faleceram, inclusive Anne e a irmã Margot, vítimas do tifo que grassava no campo de concentração de Bergen-Belsen, perto de Hannover, na Alemanha, em face das péssimas condições sanitárias reinantes. Ajudado pela sorte e pelas oportunidades, Otto Frank sobreviveu. O sargento que efetuou as prisões deve ter inflado de orgulho pelo relevante serviço prestado à causa nazista. Seu nome ficou registrado para sempre no livro negro das atrocidades nazistas. A prisão aconteceu, segundo se concluiu, graças a alguma delação. Lá como cá, os dedo-duros aproveitaram para tirar sua casquinha.
Organizado e publicado por Otto, o “Diário de Anne Frank” é um dos livros mais lidos do mundo. Isso, não obstante, não tem impedido o crescimento do nazismo, inclusive no Brasil. Ele é um documento chocante do que pode acontecer em regimes autoritários, intolerantes e obscurantistas.