Balneário Camboriú terá novamente um número inexpressivo de mulheres no Legislativo – somente Jade Martins (MDB) e Ciça Müller (PDT) foram eleitas.
A reportagem conversou com as duas, que opinam sobre este cenário de minoria feminina na Câmara Municipal, mas celebram a importância da eleição da primeira prefeita da história de Balneário Camboriú.
Jade Martins (MDB) – 1094 votos
Advogada pós-graduada em Gestão de Cidades e corretora de imóveis. É casada com o Eduardo Ribeiro, mãe do Miguel e da Luiza. Iniciou sua caminhada política através do Movimento Estudantil, tendo sido Presidente do DCE da Univali. Em 2009 iniciou sua caminhada na administração municipal, exercendo atividades em diversas áreas. Em 2016, foi a primeira mulher candidata à prefeitura de Balneário Camboriú.
“Acredito que a participação feminina na política, não só na questão partidária, mas nas mais diversas áreas que podemos ter, ainda engatinha. Mas quando analisamos entidades, ONGs e associações, a participação é muito maior – por exemplo, eu como advogada, o maior número é de mulheres, assim como temos o maior número de eleitorado, maior número de juízas de direito, mas quando chega no STJ e STF, não conseguimos ser maioria.
Ainda existe, sim, esse preconceito velado, essas barreiras que precisam de alguma maneira ser quebradas, e só vamos quebrar ocupando espaços.
Fui a primeira candidata a prefeita de Balneário Camboriú, em 2016, e isso incentivou mais mulheres a virem, e agora temos a primeira prefeita eleita. Vejo que existe uma nova consciência quando comparamos com 2016. Ouvi muitas pessoas, principalmente mulheres, falando de só votar em mulheres.
O meu papel e da Ciça na Câmara é justamente o de promover ações e eventos, para que consigamos inserir cada vez mais mulheres nas discussões de cidade, e ter mais mulheres na próxima Legislatura (eleições de 2028).
É um papel importante que temos. Não adianta a gente só buscar apoio em mulheres, temos que ser abraçadas por homens também, que eles também abracem e apoiem mulheres.
Existem mulheres votando nos homens. Quando olhamos para as torres de partidos – existem mulheres muito bem votadas, mas que garantiram legenda para os homens entrarem. Tudo tem que ser levado em conta. Antes percebíamos muitas nominatas com mulheres como laranja, só para cumprir número, e hoje se não há movimentação financeira, quantidade expressiva de votos, propaganda publicizada, a chapa inteira pode ser cassada. Isso dá uma responsabilidade maior. 30% do fundo ser destinado para mulheres é ponto positivo, faz com que os partidos se obriguem a investir em candidaturas femininas. A passos lentos a gente vem evoluindo, mas cabe a nós agora, as eleitas, conseguirmos desbravar mais caminhos”.
Ciça Müller (PDT) – 708 votos
Gaúcha de Lageado, tem união estável com Flávio Júnior Pavan, é formada em Administração com Habilitação em Marketing, na Univali e Pós-Graduada em Comunicação Digital, na Uniavan, atualmente cursando Administração Pública na UDESC. Mora em Balneário Camboriú desde 1982 e entrou na política em 2020.
“Eu acredito que as mulheres ainda não reconhecem outras mulheres com o potencial para a política, mesmo sabendo que elas dominam diversos cenários – como empresas, a exemplo da Tedesco Marina, e entidades de classe, onde mulheres protagonizam trabalhos fantásticos, como no Sindilojas, BC Convention, OAB e Acibalc – lugar de onde eu mesma vim. Eu sou fruto da Acibalc, que tem um Núcleo de Mulheres muito atuante, com líderes inteligentes, capazes, competentes, resilientes e empáticas, características encontradas mais em mulheres.
Talvez a própria construção política ser baseada em cotas já passa mensagem que não devemos ocupar tantos espaços assim.
Fora isso, muitas mulheres não se encorajam a participar da política por ser um ambiente hostil e que, para isso, tem que abandonar outros projetos, deixando inclusive de lado a própria família.
A mulher se preocupa com o bem estar de todo mundo, para só então, depois de cuidar de tudo, pensar em si mesma. Acredito que agora, também com uma prefeita e duas vereadoras na Câmara, cabe a nós entregar um trabalho com competência para que os eleitores reconheçam a força da mulher na política, porque isso nós temos de sobra”.