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MITLA E O INFRA MUNDO ZAPOTECA

08/11/2024 | América Misteriosa, Clic

Para quem viaja ao México, a região de Oaxaca é uma daquelas que oferecem aos visitantes um grande número de atrações das mais interessantes. Ali se pode apreciar uma cidade colonial com belos edifícios ricamente preservados, uma gastronomia única, artesanatos peculiares conhecidos como alebrijes e alguns dos mais importantes sítios arqueológicos como Monte Albán e Mitla, ambos pertencentes ao povo Zapoteca.

Os zapotecas são oriundos do sul do México, posteriormente estabelecendo-se nos vales próximos a atual Oaxaca. O início da chamada “tradição” zapoteca surgiu por volta de 300 a.C., mas seu auge ocorreu entre 100 e 800 d.C. Após este período um longo declínio ocorreu por causa de invasões, guerras e secas até o momento da invasão espanhola no início do XVI. O povo zapoteca comercializava através dos vales centrais do México e produzia milho, feijão e mel, além de sofisticadas tecelagens e cerâmicas, muitas das quais amplamente utilizadas para ornamentação de suas sepulturas.

Neste contexto, Mitla surgia como um de seus principais centros. Seu nome zapoteca original era Lyobaa, que significa “lugar de sepulturas” ou “lugar dos mortos”. Situada cerca de 40km da atual Oaxaca, o local até hoje impressiona pela sua disposição arquitetônicas, amplas salas, palácios, colunatas e uma ornamentação formada por mosaicos geométricos em pedra, pintados com cores fortes como o vermelho. Estima-se que, em seu auge, a Mitla zapoteca abrigou cerca de 10 mil pessoas. A atual Mitla (San Pablo Villa de Mitla) possui pouco mais de 7 mil pessoas.

Em 2023, o INAH (Instituto Nacional de Antropologia e História) em colaboração com a Secretaria de Cultura do México e diversas universidades locais deu andamento a uma ampla pesquisa em Mitla, através do Projeto Lyobaa. O objetivo foi encontrar evidências sobre um suposto e devastador terremoto que teria selado o destino final de Mitla. A teoria foi proposta pelo geólogo Victor Hugo Garduño Monroy (1954-2019). Para isso, foram instaladas estações de medições sísmicas em diversos pontos da região, que conseguiram definir um padrão de tremores nas encostas da Sierra Norte e no Valle de Tlacolula, uma região ainda hoje ativa do ponto de vista sísmico.

O resultado do Projeto Lyobaa comprovou que o subsolo de Mitla é formado por capas irregulares compostos por avalanches de terra e pedras em diversos momentos da história. Também ficou comprovado que boa parte do assentamento original de Mitla está soterrado debaixo de num enorme depósito de rochas resultante de uma enorme avalanche – um terremoto magnitude 7 ou mais – decorrente do Período Pós-Clássico (900-1520 d.C.) que definitivamente implicou no abandono da localidade. 

Mas o Projeto Lyobaa teve também outros objetivos, como por exemplo investigar as tradições populares que diziam estar Mitla repleta de túneis abaixo das ruínas; e que estes seriam os caminhos ou entradas para o infra mundo pré-colombiano ou terra dos mortos. Documentos coloniais mencionam a existência destes túneis abaixo da igreja da cidade, lacrados pelos religiosos na época para evitar desaparecimentos da população. Para desvendar o mistério, os arqueólogos aplicaram técnicas de tomografias elétricas e de refração, e radar de ondas eletromagnéticas que posteriormente foram transformadas em mapas 3D do subsolo das ruínas. E de fato, a lenda popular foi confirmada, com a revelação de uma rede de túneis e câmaras subterrâneas abaixo do altar principal da atual igreja, com cerca de cinco a oito metros de profundidade. A descoberta confirmou também o mito zapoteca que Mitla foi construída como um ponto de confluência entre o mundo dos vivos e o infra mundo dos mortos, chamado justamente de Lyobaa. Ainda segundo as tradições zapotecas, o infra mundo era dominado pela entidade ou Deus da Morte, Pitao Pezelao – também chamado Trece Mono ou Lira Huila – que da mesma forma era venerado em outras localidades como Tlacolula, Coatlán, Ocelotepec, Tecuicuilco e Huitzo. 

As pesquisas no infra mundo de Mitla continuam e os arqueólogos esperam com isso aprender um pouco mais sobre a mitologia zapoteca e seu entendimento da morte, revelando estruturas, sepulturas e câmaras intocadas a séculos. 

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero) 

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