Imagine que você está nascendo neste exato instante… Você não sabe o que é sexo. Não tem interesse em política. Nunca extraiu raiz quadrada. Tudo que você deseja é engolir o universo inteiro numa primeira golfada de vida e gritar: liberdade! Não importa onde, nem quando ou porquê.
Em seguida, o turbilhão do tempo nos arrasta para dentro de um mundo novo e nossa primeira sensação de prazer é apreendida com leite materno. O primeiro abraço nos apresenta ao amor eterno. Ponto final, o paraíso acaba aqui.
Frio, banhos, roupas, gente apertando, beliscando, rindo. Fralda resfriada, leite de pacote. Leite de pacote! Gritos desconsiderados à noite, braços e pernas esticando nossos ossos. A roda do tempo não para.
Aprendemos a nos arrastar, engatinhar, caminhar, sempre em busca do amor no peito, do paraíso perdido. Nossa mãe quase não tem mais tempo para aquele abraço que nos convenceu a viver. Somos cada vez mais um pedaço de pessoa só, num corpo crescendo tocado, por mãos estranhas, que lembram caixas de leite.
Mal aprendemos a somar as letras na escola e descobrimos que meninos são diferentes de meninas. E agora, conto para professora sobre os toques que recebo no silêncio ensurdecedor das madrugadas, que muito se parecem com o que ela chamou de sexo? Mamãe chora quando tento falar disso.
Será que o mundo vai me aceitar?
Claudemir Casarin é psicólogo e residente em Balneário Camboriú