O escritor Monteiro Lobato (1882/1948) foi de uma criatividade espantosa. Estava sempre se renovando em todas as fases da vida e nas inúmeras atividades que exerceu. É admirável que tenha realizado tanta coisa em uma vida de apenas 66 anos. Foi Promotor Público, fazendeiro, escritor, editor, tradutor, adido comercial nos Estados Unidos e batalhou de forma incansável pelo petróleo e pelo ferro do país. Não bastasse tudo isso, revelou inesgotável imaginação na produção de sua imensa obra infantojuvenil, consagrando-se como o criador do gênero no Brasil.
No entanto, mesmo com tão variáveis atividades, sua obra revela um atento observador da natureza e seu admirador. Em várias de suas crônicas descreve matas e rios, não faltando as pequenas borboletas amarelas que voam sobre a água. Nos capítulos iniciais do seu livro “O Saci” demonstra admirável conhecimento sobre as flores ao descrever o “Sítio do Picapau Amarelo.” Entre as plantas antigas, plantadas por Dona Benta, ele anota: esporinhas, damas-entre-verdes, suspiros, orelhas de macaco, jasmim do cabo e jasmim manga (planta deveras antiga). Pés de cera e cravo de defunto também aparecem. Lembre-se de que esse jardim é imaginário, só existiu na imaginação do escritor.
Mais adiante, com a imaginação galopando, ele descreve o pomar do Sítio. Havia jaqueiras, cabeludas, grumixama, sapoti, fruta do conde, mamão, romã e laranja baiana. Era um pomar tão antigo que os vizinhos caçoavam: um dia essas árvores vão caducar e umas vão dar as frutas das outras. No entanto, havia árvores muito antigas e maravilhosas que Lobato pinta em detalhes. Muitas delas “tinham dono” – cada criança tinha a sua. “Impossível haver no mundo – escreve Lobato – lugar mais sossegado e fresco, e mais cheio de passarinhos, abelhas e borboletas.”
Como se vê, o Sítio de Dona Benta era um oásis de paz e tranquilidade criado pela fértil imaginação de Lobato. Talvez fosse o lugar ideal onde ele gostaria de viver, longe da agitação em que vivia.