O dono da Havan, Luciano Hang, distribuiu nota à imprensa defendendo que a discussão para alterar a jornada de trabalho 6 x 1 não acrescenta nada, pois “o brasileiro não quer trabalhar menos, ele quer, acima de tudo, viver melhor, com mais conforto, mais segurança, saúde, educação e independência. Quer ter uma melhor condição de vida e não viver de esmolas do Estado”.
Ele poderia ir ao amanhecer, nas ruas que trazem dos bairros trabalhadoras de bicicleta, para ver o cansaço estampado nos rostos. Talvez mudasse de ideia.
No texto o empresário -que gosta de considerar como verdade absoluta aquilo que pensa- acaba revelando suas reais preocupações: impacto na rentabilidade das empresas, com suposto custo adicional de 70%, o que supostamente aumentaria a inflação, “destruindo o poder de compra das famílias, especialmente as de menor renda”.
Hang alega também que a jornada 4 x 3 exigiria contratar mais gente e não há mão de obra disponível no mercado.
Hang poderia ler um texto de Murilo da Silva, no portal Vermelho.org.br (um portal de esquerda) onde surge a informação que enquanto no Brasil a média de horas semanais de trabalho fica em 39 horas, nos países do G7 é: Canadá (32,1 horas), Alemanha (34,2), França e Reino Unido (35,9), Itália (36,6), Japão (36,6) e Estados Unidos (38). Estes dados servem para desmistificar a ideia de que em países desenvolvidos se trabalha mais. Pelo contrário. Como é possível observar, nestas localidades, trabalha-se menos, o trabalho é mais intensivo e produtivo, o que permite maior valorização da parte social pelos trabalhadores.
Hang também poderia refletir sobre uma frase da deputada Erika Hilton, no portal Alma Preta, produzido por jornalistas negros: “Trabalhar seis dias seguidos para folgar um, para então começar mais uma semana de seis dias de trabalho não é vida. É exploração incompatível com a dignidade humana, mas permitida na nossa Lei. Não dá para viver só um sétimo da própria vida, não existimos apenas para trabalhar. Nossa Lei precisa mudar”, argumentou Hilton.
A proposta de reduzir a carga horária, o movimento Vida Além do Trabalho, ajudou seu autor, Rick Azevedo, a se eleger vereador no Rio de Janeiro, ideia encampada pela deputada Erika Hilton e levada ao Congresso Nacional.
Chega a ser pornográfico, num país onde vereadores trabalham menos de 50 horas por mês, e deputados e senadores só comparecem a Brasília 3 dias por semana, dizer que “o brasileiro não quer trabalhar menos”, como alegou Hang.
O povo quer sim trabalhar menos e ganhar mais, todos queremos, menos expressiva parcela dos empresários que historicamente enxergaram nos empregados não muito mais do que burros de carga.
O texto inicial da PEC propõe que o limite caia para 36 horas semanais, sem alteração na carga diária de oito horas, sem redução salarial e adotando o modelo de quatro dias de trabalho.
O Jornal da USP publicou, no ano passado, artigo mostrando que ”Pesquisa realizada na Inglaterra com 61 empresas de diversos setores revelou que, além de fazer sucesso entre patrões e funcionários, a redução da jornada de trabalho não diminuiu a produtividade, ideia que vai na contramão do senso comum sobre o assunto”.
O capitalismo arcaico e predatório vigente em grande parte do Brasil não prevê lazer e felicidade para trabalhadores do comércio, por exemplo.
Hang até se alinha melhor do outro lado, paga salários um pouco mais atraentes e distribui lucros, mas na hora em que tem que colocar a mão no bolso para gastar mais com mão de obra, reclama como muitos empresários fazem.