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O NAUFRÁGIO DO BELITUNG

07/10/2024 | Clic, Piratas dos Sete Mares

Por volta de 830 d.C., diversos veleiros árabes – conhecidos genericamente como Dhow – percorriam a chamada Rota Marítima da Seda, que incluía as regiões do Mar Vermelho, Península Arábica, sul da Índia, sudeste asiático, Indonésia, Sumatra, Estreito de Malaca e mares da China. O Belitung (também chamado naufrágio Tang ou de Batu Hitam) era um desses barcos que completou a viagem de ida da Arábia (Omã) a China, mas naufragou em seu retorno, cerca de 1,6 km do litoral da Ilha Belitung, na Indonésia. O que esses navios costumavam transportar, eram peças delicadas demais para as corcovas dos camelos e seu caminhar terrestre: artefatos de uso sofisticado, pertencentes a Dinastia Tang, incluindo porcelanas, cerâmicas finas, ouro e prata em um total de mais de 60 mil peças.

Em 1998, mergulhadores locais que buscavam pepinos-do-mar, encontraram um bloco de coral com cerâmica incrustrada em excelente estado de conservação. As autoridades da Indonésia imediatamente se mobilizaram e concederam uma licença de escavação ao explorador Tilman Walterfang, fundador da Seabed Explorations que contou com o pesquisador indonésio Mensalna Amat Marwi. O naufrágio Belitung proporcionou aos pesquisadores dois tesouros incalculáveis! O primeiro deles composto pelos artefatos em seu porão; e o segundo formado pelo próprio navio. Ele foi o primeiro navio árabe deste período, escavado e pesquisado, proporcionando informações até então desconhecidas sobre o comércio do IX-XI. O dhow em questão possuía 6,4 metros de largura por 18 metros de comprimento. Um navio elegante de dois mastros, que utilizava uma curiosa técnica de casco “costurado” com fibras de coco ao invés de pregos em metal. Uma vez costurado, as amarras eram calafetadas para evitar a entrada da água. Pela análise da madeira e técnicas empregadas em sua construção, os arqueólogos deduziram que se tratava provavelmente de um barco árabe ou indiano. 

Quanto ao tesouro, a carga do Belitung era formada, em sua maioria, por louça Changsha feitas à mão e de coloração branca e azul; artefatos de louça branca e artefatos em grés silicoso felspático cinza da província de Zhejiang. Essas cerâmicas foram preparadas para o mercado árabe com detalhes variados, como desenhos budistas, coloração verde para venda no Irã, inscrições grafadas do Alcorão e motivos usados na antiga Pérsia. Esse detalhe na confecção de objetos híbridos – misturando design islâmico e chinês – nos revela um mundo interconectado pelas águas do Índico, incluindo o Oriente Médio, Índia, China e sudeste asiático, especialmente representados pela Dinastia Tang chinesa e pelo Califado Abássida na Ásia Ocidental, desejoso de objetos de arte refinados de exportação. Um exemplo desse comércio globalizado está no emprego dos ceramistas chineses do esmalte azul, aplicação de um minério específico encontrado apenas no Irã. 

Além desta valiosa coleção de cerâmica, o navio carregava também diversos jarros, portes para acondicionamento de especiarias, tinteiros, urnas fúnebres e peças em ouro, prata e bronze, como frascos, pratos, tigelas, copos e taças. Na época da descoberta, o Metropolitan Museum of Art de New York emitiu uma nota afirmando que a carga do Belitung representava a maior e mais rica remessa de ouro e cerâmica do sul da China no IX já descoberto em um único tesouro. 

O tesouro resgatado do Belitung foi mantido como uma coleção única, armazenado para dessalinização, restaurados, classificados e estudados por um período de seis anos. Isso proporcionou uma visão única do movimento comercial da região do século IX-XI. Além dos profissionais da Seabed Explorations, o trabalho contou com o olhar do conservador de peças museológicas, o alemão Andreas Rettel e do especialista em cerâmicas chinesas do Museu do Palácio de Pequim, o professor Geng Baochang. A carga foi avaliada em 32 milhões de dólares e por vários anos percorreu os principais museus do mundo como uma exposição itinerante. Em 2015 o tesouro do Belitung foi reunido no Museu das Civilizações Asiáticas em Cingapura, junto com uma reconstrução do barco Dhow em tamanho real de forma permanente.
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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