Geoglifos são formações artificiais cujo suporte é o próprio solo terrestre. Essas formações – algumas muito antigas, antecedendo o nascimento de Cristo – espalham-se por vários países e continentes. O motivo de sua elaboração é ainda um mistérios para os arqueólogos, e certamente é determinado pelo povo que os construiu e sua visão cosmológica. Alguns dos geoglifos mais famosos encontram-se na Inglaterra (cavalos e homens gigantes), EUA (homens e animais), Cazaquistão (figuras geométricas), Chile (homens, animais e figuras geométricas), Brasil (figuras geométricas) e Peru, onde se encontram as mundialmente famosas “Linhas de Nazca”, que cobrem uma área de 50km² e que forma construídos entre 500 aC e 650 dC.
Embora essas manifestações do passado existam em todos continentes, é aqui na América do Sul onde ela se manifesta de forma mais contínua e sofisticada, formando grandes conjuntos enigmáticos com centenas de desenhos de difícil interpretação. Depois de Nazca (Peru), Atacama (Chile) e Brasil (Acre), um quarto grande aglomerado de geoglifos ganha destaque e supera, em muitos pontos, os demais geoglifos mencionados: os geoglifos de Sajama, na Bolívia. Sajama hoje é um Parque Nacional, uma região ainda muito selvagem e inóspita, que faz parte do altiplano boliviano onde se encontra o Lago Titicaca. Nesta região se encontra o Nevado Sajama, a montanha mais alta da Bolívia com 6.550 metros de altitude.
Eles foram mencionados pela primeira vez por Aimé Félix Tschiffely, um viajante suíço muito famoso nas décadas de 1920 e 1930. Aimé foi autor de vários livros populares de aventura, como Tschiffely’s Ride (1933), publicando até mesmo na revista National Geographic Magazine. Entre 1925 e 1928 realizou uma épica viagem a cavalo entre Buenos Aires e Washington (EUA), quando então mencionou as linhas de Sajama. Ao contrário de outros geoglifos, os de Sajama são formados apenas por linhas que partem de pontos imaginários conhecidos pelos locais como “ceques”. O ceque é um dos conceitos pré-colombianos – muito usado pelos Incas – para um ordenamento divino de locais de importância, onde eram realizados rituais, danças e caminhadas sagradas. Ninguém sabe ao certo como eram feitos esses rituais nem a quem eram dirigidos. Estudos recentes apontam para adoração de antepassados e cultos associados à fertilidade, com pedidos de água e chuva.
Mas Sajama só foi alvo de estudiosos sérios em 1961, por uma equipe formada pelos pesquisadores José Mesa, Teresa Gisbert, Toni Morrison, entre outros. Na ocasião, foram detectados caminhos de 1 a 3 metros de largura que percorriam até 20 km de extensão. O complexo que engloba essas intrincadas linhas no solo ocupa uma área muito maior que Nazca, cerca de 16 vezes o seu tamanho (22 Km²)!
Recentemente, uma equipe da Universidade da Pensilvânia (EUA), coordenada por Alexis Vranich estuda a região, detectando muito mais do que as linhas conhecidas como “ceques”. Existem diversas sepulturas chamadas “Chulpas”, – como as existentes ao redor do Lago Titicaca, entre as quais o grande complexo de Sillustani –; e túmulos pré-colombianos em associação às linhas existentes. Segundo os estudiosos, são mais de 436 rotas sagradas que percorrem o deserto boliviano. Ainda não é possível apontar uma data precisa para a construção desses geoglifos, mas acredita-se por enquanto que eles foram feitos por antigos aymaras, que ainda vivem no local.
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (clique aqui)